Para-me! Gritocão

Este blog é um convite. Adentrem. Passando pela ombreira da linguagem, chegando ao que chamaremos de livro. Tirem os sapatos, fiquem à vontade, não há ninguém em casa. Apenas mantenham as janelas abertas para dar vasão.
PARA-ME [GRITOCÃO]

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012


Uma pera sonha enquanto tento acordar.

O tempo conta rugas.

Quando, enfim, atravesso minhas pálpebras,

a perassonha.

Paro e observo como um gatocão.

Não consigo distinguir se sonho ou se sou sonho, se a perassonha me sonha.

Esfrego o olhar e
a maçã sonha encostada.

Meus primos muito envelhecidos riem casos de infância.
Toca, a porta, pelas mãos da faxineira,
Um copo quebra tanto no chão,
correm com a mãe para o hospital,
ela a dizer cisco! cisco! cisco!
[gritocão] cisco! [gritocão] cisco!
Venta a família.
O que se move na casa é a própria casa.

Descuidam-se delicadamente.
Comeram a pera.
Agora, me pergunto, aonde a perassonha?

Meus primos morrem sorrindo casos,
enquanto o almoço queima no fogão
prum lado o gato, pro outro o cão.

Sofro enquanto imagino.

Chego da janela e vejo uma cidade incandescente.
Olho dentro de mim,
beijo uma mulher.

A maçãssonha.
O gritocão.

Chora meu menino, grita: pelocanto! pelocanto! pelocanto!

Meus olhos enlouquecem, incham, embaço a vista, [gritocão].
Corro pela casa sem a mãe.
Arde meu filho muito envelhecido numa cadeira de rodas.
Seco o rosto, molho o chão.
Vejo que

a aguassonha secularmente parada numa pia.
o pratossonha empilhado.
a camassonha vazia.

O ossossonha no chão da sala e, na parede, uma fotografia dos antepassados.

Esfrego os olhos até pegarem fogo:

O olhossonha

Dentro de mim 

[gritocão].

Um comentário:

  1. Seu poema é uma dança. Percebe? Há ritmos. Velocidade, parada,senta, levanta, descansa, pula, pausa, corre. A perassonha, a pinabauscha.
    Teabraço. Danço.

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